Mauricio Ribas - Escritor
Este blog tem como objetivo divulgar o trabalho de Mauricio Ribas como escritor e um pouco da sua história (Bio). Busca também abrir a possibilidade de debater sobre a leitura, a escrita, suas ideias, seus livros e livros de uma maneira geral. Por favor, se possível, deixe seus comentários, serão recebidos com grande alegria.
domingo, 23 de março de 2025
A quem serve o Santo Graal?
A história do Rei Pescador e Parsifal é uma das mais conhecidas na tradição do ciclo arturiano e nas lendas do Santo Graal. O Rei Pescador, “Fisher King”, também chamado de Rei Ferido, estava gravemente doente, tinha feridas horríveis por todo o corpo e além disso o reino dele estava passando por uma terrível situação de fome e miséria nunca antes vivida, o que simboliza a decadência espiritual do reino. Só havia uma saída, encontrar o Santo Graal. O Santo Graal para quem não sabe é o cálice que foi usado por Jesus na última ceia e que teria, por isso, poderes inimagináveis.
Parsifal, um jovem cavaleiro, embarca na busca pelo Graal com o objetivo de restaurar a saúde do Rei Pescador e trazer prosperidade ao reino. No entanto, sua jornada é repleta de desafios, incluindo provas de fé, coragem e pureza. Ele passa por uma jornada de amadurecimento, aprendendo sobre a compaixão e o dever espiritual, até estar preparado para completar sua missão, ou seja, encontrar o Santo Graal.
Quando Parsifal finalmente encontra o Santo Graal na lenda, a pergunta que ele deveria fazer ao Rei Pescador é: "A quem serve o Graal?" Dependendo da versão da história. Essa pergunta é crucial para quebrar o ciclo de sofrimento do Rei e restaurar a saúde dele, assim como a harmonia no reino. Sem a resposta correta do rei, Parsifal não poderia levar consigo o Santo Graal e salvar o reino. Notem que nesta versão o rei deve saber a resposta e sem ela seu reino não será salvo.
Parsifal, em sua primeira tentativa, não faz essa pergunta devido à sua imaturidade ou falta de compreensão espiritual, mas, em seu retorno, ao ter aprendido com suas jornadas e crescido como pessoa, ele finalmente faz a pergunta certa e pode completar sua missão, desde que a resposta à pergunta seja a correta.
Em uma das versões mais espirituais da lenda, onde a resposta à pergunta sobre a quem serve o Santo Graal é "Ao Senhor do Graal," interpretado como Deus ou uma força divina, ou ainda a quem se destina o Poder de transformação do Santo Graal. Essa resposta, reconhece que o Graal não é apenas um objeto físico, mas um símbolo espiritual ligado à conexão com o divino e ao serviço altruísta e que para que ele atue na transformação pretendida, na cura, a pergunta tem de ser feita e a resposta certa deve ser dada. Note-se que a pergunta é tão importante quanto a resposta.
Essa interpretação destaca que aqueles que servem ao Graal são chamados a viver uma vida de pureza, fé e compaixão, dedicados ao propósito maior de ajudar e iluminar os outros, fazer justiça e valorizar a vida. Podemos reimaginar o Santo Graal como um símbolo da tecnologia moderna - algo profundamente desejado por seu potencial transformador. Assim como na lenda, o Graal deveria trazer cura e prosperidade ao reino, a tecnologia, em nossos tempos, deveria servir como uma ferramenta para promover igualdade, bem-estar e soluções para problemas globais, portanto estaríamos respondendo à pergunta a quem serve o Santo Graal, vale dizer ao senhor do Santo Graal, portanto à toda a humanidade porque a humanidade é a obra suprema de Deus e como na passagem onde Cristo diz que o que fizeste ao mais pequenino fizestes a mim isso é revelador.
No entanto, quando o "Graal da tecnologia" é monopolizado por grupos, oligarquias ou governos focados apenas em interesses próprios, ela acaba aumentando as desigualdades e perpetuando a miséria, desviando-se do verdadeiro propósito, tudo porque não está a serviço da humanidade. A pergunta que Parsifal deveria fazer ao Rei Ferido – “A quem serve o Graal?” – pode ser adaptada: “A quem serve a tecnologia?” Precisamos nos indagar. A resposta ideal seria: “A humanidade como um todo.” A tecnologia deve ser utilizada para democratizar oportunidades, combater a desigualdade e fomentar um futuro mais sustentável para o planeta e por isso precisa ser posta a serviço de toda a humanidade e não apenas de alguns.
A tecnologia, o conhecimento têm um potencial incrível para transformar a humanidade positivamente. De fato, ela poderia – e deveria – ser usada para enfrentar desafios urgentes como o aquecimento global, a miséria, doenças, a fome e tantas outras questões que afetam bilhões de pessoas. O que é a tecnologia? Tecnologia é o conjunto de conhecimentos, ferramentas, técnicas e processos criados e aplicados pelos seres humanos para resolver problemas, melhorar a vida, ou atender a necessidades específicas. Ela abrange desde invenções simples, como a roda, até os sistemas mais complexos, como inteligência artificial e redes globais de comunicação.
No entanto, quando a tecnologia é colocada a serviço de interesses destrutivos, como a guerra, a perpetuação de conflitos que devoram bilhões de dólares, o lucro fácil em detrimento de outros povos, a mentira como instrumento de manipulação, a xenofobia, o nacionalismo, o racismo, a destruição do planeta através da sua exploração desenfreada, acabamos vendo um desperdício trágico desse potencial. É o desvio da verdadeira missão da tecnologia, do conhecimento, que deveria ser um "graal moderno" para beneficiar a coletividade, promovendo a harmonia entre povos e o equilíbrio com o planeta. Destarte, nossos “reinos” estão apodrecendo como as feridas do Rei sofredor e a humanidade fragilizada.
Transformar essa realidade exige um esforço coletivo, tanto de governos quanto da sociedade civil, para reorientar o uso da tecnologia, do conhecimento para fins pacíficos e sustentáveis. É um desafio que requer ética, visão a longo prazo e, acima de tudo, a vontade de servir ao bem comum.
A alegoria do Santo Graal e do sofrimento do Rei Pescador funciona como um poderoso reflexo do estado da humanidade contemporânea. O Graal, enquanto símbolo de cura e harmonia, representa as soluções que buscamos — seja na tecnologia, na ciência ou no conhecimento — para os grandes desafios que enfrentamos, como a miséria, o aquecimento global e as desigualdades sociais e fazermos frente ao desafio de colocar tudo isso a serviço de todos e não de poucos.
Já o Rei Pescador, ferido e incapaz de liderar, pode ser visto como uma metáfora para o estado de fragilidade da nossa civilização, que luta para encontrar equilíbrio diante de conflitos, crises e divisões. Assim como Parsifal na lenda, somos desafiados a encontrar as perguntas certas, além das respostas e os caminhos corretos para servir a esse "graal" de soluções que pode restaurar a prosperidade e a saúde do nosso mundo.
Essa analogia nos convida a refletir sobre nossas responsabilidades e prioridades como sociedade. De que forma podemos agir como Parsifal e superar os erros do passado? A educação, como sabemos, é a verdadeira base para mudar o rumo da humanidade. Investir nas futuras gerações é mais do que preparar crianças e jovens para o mercado; é cultivar cidadãos críticos, conscientes e compassivos, capazes de pensar de forma independente e atuar pelo bem coletivo.
Enfrentar a desinformação e resistir contra a tentativa de transformar a educação em algo alienante são batalhas que exigem união, perseverança e coragem. A educação deve ser um espaço de libertação, onde as pessoas aprendem não apenas a saber, mas também a cuidar, a questionar, a dialogar. Empatia e solidariedade nascem de uma compreensão mais profunda do mundo e do sofrimento humano – e isso pode ser ensinado e amplificado em contextos educacionais.
Essa visão lembra muito o Rei Pescador da lenda, esperando por alguém como Parsifal para fazer a pergunta certa e começar a curar as feridas de um reino adoecido. Nós, como sociedade, temos o potencial de nos tornarmos esse Parsifal, buscando soluções justas e solidárias calcados na pureza de propósitos, na empatia, na fé, na compaixão e no amor.
MAURICIO RIBAS
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
O que não sabem ou não querem saber aqueles que atacam a União Europeia - Vida longa à UE - Capítulo do Livro Questões Polêmicas Relações Internacionais - Mauricio Ribas
A Declaração Schuman, sem sombra de dúvida, é a “certidão de nascimento” da União Européia e tem um conteúdo a meu ver apaixonado e idealista, típico de homens que por suas ações e ideias são capazes de mudar o mundo. A proposta do Capitulo presente é refletir sobre a capacidade de usar essa experiência e adaptar o conhecimento prático e formal adquirido ao longo da História, analisar as Instituições e a Formulação de Políticas da UE, na forma prática e fornecer possíveis recomendações aplicáveis aos formuladores de políticas. Este ensaio é composto por duas partes, a primeira descrevendo a Declaração Schuman (1950) e a segunda é analítica.
A Declaração de Schumann, datada de 9 de maio de 1950, foi elaborada e entregue por Robert Schumann, ministro francês das Relações Exteriores da França, em 9 de maio de 1950, esta declaração consiste em um documento que aborda a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), quando esta Comunidade é mencionada pela primeira vez. Este texto é considerado o ponto de partida da União Europeia. Em 1985, por decisão do Conselho Europeu, o dia 9 de maio tornou-se o Dia da Europa.
Robert Schumann é um dos pais da União Européia, ao lado de Adenhauer e Monnet e isso não é por acaso. A grandeza e inspiração que lhe eram inerentes e porque não dizer o amor pela Europa, são evidentes e sobretudo uma força avassaladora que somada ao exaustivo trabalho realizado, levou ao que podemos chamar de “o fim das guerras sem fim” na Europa e na construção de uma sociedade que serve de exemplo e inspiração para o mundo inteiro.
Devemos perguntar primeiro o que é a Europa?
Tal pergunta não é fácil de responder. "O QUE é a Europa?" perguntou Winston Churchill em maio de 1947. “Uma pilha de escombros, um cemitério, um terreno fértil para pestilência e ódio.” Churchill, ex-oficial do exército, repórter de guerra e primeiro-ministro britânico (1940-1945 e 1951-1955), foi um dos primeiros a defender a criação dos "Estados Unidos da Europa". Após a Segunda Guerra Mundial, ele acreditava que somente uma Europa unida poderia garantir a paz. Seu objetivo era eliminar permanentemente as "doenças" europeias do nacionalismo e do belicismo. Churchill apresentou suas conclusões, tiradas da experiência histórica, em seu famoso “Discurso à juventude acadêmica”, proferido na Universidade de Zurique em 1946: “Há um remédio que (...) da Europa (...) livre e feliz. Trata-se de reconstituir a família europeia ou, pelo menos, a parte que podemos reconstituir e dotá-la de uma estrutura que lhe permita viver em paz, segurança e liberdade. Devemos criar uma espécie de Estados Unidos da Europa”. (Europa.eu/europeanunion/sites/europaeu/files/docs/body/winston_churchill).
Se Churchill estivesse vivo, ficaria profundamente desapontado com os caminhos escolhidos pelo Reino Unido, que, sob a influência da extrema-direita nacionalista, promoveu um dos piores e mais tristes momentos para a Europa nos últimos 70 anos, nomeadamente a saída da Uniao Europeia, o BREXIT. O triste é que vivemos uma época em que o mundo precisa construir pontes, amarrar laços e promover o bem-estar comum e não o isolacionismo nacionalista.
O clima histórico e político da época
“De todas as glórias contidas no Ministério das Relações Exteriores da França, a mais gloriosa é o Salon de l'Horloge. Suntuoso em ouro e mármore, adornado com candelabros e sedas, banhado pela luz inclinada do Sena, foi lá que os velhos dirigentes entregaram o Tratado de Versalhes após a primeira guerra mundial. O pacto Kellogg-Briand foi assinado lá em 1928, prometendo proibir o uso agressivo de armas para sempre. E em 18 de abril de 1951, exaltados pelas armadilhas do império, ministros da Alemanha Ocidental, Itália, França e três países do Benelux colocaram seus nomes no Tratado de Paris, o documento fundador do que, quatro décadas depois, se tornaria a União Europeia." (The Economist 2016)
Em 1950, a Europa vivia um clima pestilento em meio a uma Europa destruída e derrubada pela Segunda Guerra Mundial; em 1945, as pessoas não acreditavam que a Europa Ocidental iria se recuperar. Cidades, fábricas, portos, estradas, ferrovias, armazéns, prédios, casas foram destruídos pelos constantes bombardeios. Fazendas também foram destruídas. Milhões perderam a vida, muitos outros foram mutilados, sem falar nos milhões de órfãos, mulheres e velhos indigentes. Com o racionamento forçado de alimentos, as pessoas passavam fome. Essas condições, somadas ao trauma da experiência de guerra, resultaram em instabilidade política em muitos países. Mas com a ajuda dos Estados Unidos, por meio do Plano Marshal, a Europa Ocidental se recuperou.
O Plano Marshall forneceu ajuda crucial para a Europa Ocidental. No entanto, o plano americano não foi suficiente para promover o desenvolvimento europeu. Para reconstruir a Europa Ocidental, algumas nações européias finalmente decidiram cooperar. Essa cooperação precisava ir além das questões meramente econômicas e ousar acabar com os motivos que levaram às constantes guerras que assolam o continente há séculos, trazendo dor e sofrimento.
Neste ponto quero confessar que antes de me aprofundar neste tema, pensava na União Europeia, apenas como um bloco económico forte e pensava que a sua criação se devia apenas à questões económicas e financeiras. Devo dizer que não só eu, mas muitos europeus que conheço, pensam da mesma forma. Eu estava surpreendentemente enganado.
Por que carvão e aço?
“Equipado com as armadilhas de um esquema para administrar a produção de carvão e aço, o tratado era, em essência, um acordo de paz franco-alemão. De acordo com o ambiente, sua instanciação física era suntuosa e simbólica. Em suas memórias, Jean Monnet, um dos pais da Europa, descreve um documento impresso na França em papel holandês com tinta alemã, montado em uma encadernação belga e luxemburguesa e decorado com um marcador de livro de seda italiana. O que Monnet não diz é que, como as negociações foram tão frenéticas, a folha de papel que os ministros assinariam foi deixada em branco. Se estivessem vivos hoje, esses ministros ficariam surpresos ao ver como seus sucessores preencheram aquela página em branco a ponto de explodir em instituições e países. A comunidade começou com seis membros, quatro idiomas, 177 milhões de pessoas e (em caixa em 2014) US$ 1,6 trilhão em produção anual. A UE de hoje tem 28 membros, 24 idiomas, 505 milhões de pessoas e um PIB de US$ 19 trilhões.” (The Economist 2016). É impossível não concordar que a solução para a barbárie e a construção de uma sociedade modelo para o mundo passou por uma construção industrial e comercial, um passo simples, que, inspirado nas ideias dos “pais da Europa”, envolveu a todos num futuro de paz e prosperidade.
Schumann, falando sobre o tratado de carvão e aço, responde à pergunta acima dizendo: “A união da produção de carvão e aço deve fornecer imediatamente o estabelecimento de bases comuns para o desenvolvimento econômico como um primeiro passo na federação da Europa, e mudará destinos as regiões que há muito se dedicam à fabricação de munições de guerra, das quais têm sido as mais constantes vítimas. A solidariedade na produção assim estabelecida deixará claro que qualquer guerra entre a França e a Alemanha não é apenas impensável, mas materialmente impossível. A instalação desta poderosa unidade produtiva, aberta a todos os países que queiram participar e que, em última análise, fornecerá a todos os países membros os elementos básicos da produção industrial nas mesmas condições, constituirá uma base real para sua unificação econômica. Esta produção será oferecida ao mundo, sem distinção ou exceção, com o objetivo de contribuir para a elevação dos padrões de vida e promover conquistas pacíficas.”
Sim, o carvão e o aço e seu monopólio foram usados até então para produzir guerras de dominação a serviço da ganância e do poder e agora controlados seriam colocados a serviço do desenvolvimento e do progresso.
Schumann um sonhador?
"A paz mundial não pode ser salvaguardada sem esforços criativos à medida dos perigos que a ameaçam. A Europa não se fará de uma só vez, nem segundo um único plano. Será construída através de realizações concretas que criem primeiro uma solidariedade de fato. O contributo que uma Europa organizada e viva pode fazer à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacíficas. A união das nações da Europa requer a eliminação da antiga oposição da França e da Alemanha." “... Reunindo a produção básica e instituindo uma nova Alta Autoridade, cujas decisões vincularão a França, Alemanha e outros países membros, esta proposta levará à realização da primeira fundação concreta de uma federação européia essencial para a preservação da paz. A movimentação de carvão e aço entre os países membros será imediatamente isenta de todos os impostos alfandegários e não será afetada por taxas diferenciadas de transporte. Aos poucos vão-se criando condições que permitirão espontaneamente uma distribuição mais nacional da produção ao mais alto nível de produtividade.” (Schumann 1950).
Sim, Schumann era um sonhador que sonhava alto, que pensava não só na Europa, mas no mundo, no desenvolvimento e queria e principalmente incluir a África nos planos de desenvolvimento e progresso humano. Precisamos de mais homens como Schumann.
Paz, esforço, solidariedade, criatividade, proporcionalidade, passo a passo, essas são as palavras de ordem. “... os países há muito se opõem a divisões sangrentas. Reunindo a produção básica e instituindo uma nova Alta Autoridade, cujas decisões vincularão a França, a Alemanha e outros países membros, esta proposta levará à realização da primeira fundação concreta de uma federação europeia indispensável para a preservação da paz.” (Schumann 1950)
O nacionalismo ainda é uma ameaça à União da Europa e à paz?
Evidentemente que sim. Do ponto de vista histórico, o nacionalismo fomentou rivalidades que dariam sentido à Primeira e à Segunda Guerra Mundial. As rivalidades imperialistas sempre estiveram próximas de um discurso no qual o interesse de uma nação deveria estar acima das “ameaças” de outras nações inimigas imaginárias. E o cerne da organização da ideologia nacionalista é a noção de superioridade e rivalidade.
Analisando o século passado, o nacionalismo conseguiu atingir sua expressão mais radical com a ascensão dos movimentos totalitários na Europa. Sob o pretexto de defender a nação, os movimentos nacionalistas tomaram para si a ideia de que as liberdades individuais deveriam ser suprimidas em favor de um líder máximo, capaz de ditar e executar os desejos de toda uma coletividade segundo seu discernimento quase divino. O resultado monstruoso da Segunda Guerra Mundial nos mostra o que podemos esperar dessa ideologia infame.
Hoje em dia, apesar da história nos mostrar o passado, apesar do fenómeno da globalização, do vertiginoso desenvolvimento tecnológico, este cancro, o nacionalismo, aparece mesmo na expressão de alguns pequenos grupos que rejeitam o ideal de integração contemporânea. Propagam a construção de muros e a destruição de pontes entre as nações, espalham o ódio, o racismo, a intolerância e arrastam multidões cada vez mais. Eles usam o medo, a deformação e a ignorância das massas. A intolerância não pode ser tolerada, e devemos ser fortes e ágeis no combate a essas ideias que podem levar a humanidade ao caos, ao sofrimento e à dor vivenciados no passado recente. Em alguns países, os chamados neonazistas, também aparecem alimentados por um nacionalismo que repudia a união entre os povos, a questão migratória, fomenta a perseguição de minorias, prega o racismo e a superioridade racial. Sem dúvida, a questão nacionalista ainda hoje é miserável.
Recomendações aplicáveis aos formuladores de políticas
As políticas devem tratar da defesa intransigente da democracia contra o autoritarismo, o nacionalismo e todas as doutrinas que atentem contra o ideal de solidariedade e respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana; defender a liberdade de imprensa e lutar contra o uso indevido da tecnologia ao serviço da desinformação e da propagação da mentira, promovendo os direitos humanos e o Estado de direito como forma de alcançar a liberdade e o desenvolvimento social na UE e no estrangeiro.
A UE, através dos seus agentes-alvo, deve apelar ao setor privado, incluindo o setor tecnológico e as empresas das redes sociais, para que atuem no sentido de assumir compromissos, reconhecendo a sua extrema responsabilidade e o seu enorme interesse em preservar sociedades abertas e democráticas e proteger a liberdade de expressão no mundo. Não podemos mais tolerar; tolerar o avanço e a consolidação de doutrinas antidemocráticas contrárias aos direitos humanos e às liberdades fundamentais da pessoa humana e valores que em grande medida foram engrandecidos na formação e manutenção da União Européia. Devemos promover os valores europeus baseados na ética.
Conclusão
Segundo McCormick e penso que tem toda a razão, “a Europa hoje é o resultado direto da “Declaração Schuman” de 9 de maio de 1950. Segue o mesmo método e mantém os objetivos. É necessário reler o único livro que este “Pai da Europa” escreveu “Pela Europa” e dedicou a esta aventura, um sonho inicialmente inacessível que se tornou uma realidade tangível, para compreender a sua abordagem e as apostas políticas desta pacífica construção voluntária da unidade do continente, como tal sem precedentes na história. No contexto muito particular da época, que recorda, não foge a nenhuma das questões que legitimamente se podem colocar sobre o projeto europeu: a nação, o federalismo, a cultura, as raízes da Europa. E sob sua pena, em vez de se confrontarem, os Estados e os povos da Europa se somam; uma Europa política e voluntária, rica na sua diversidade, mas forte na sua unidade. Esta visão continua a ser uma necessidade para a Europa hoje e um requisito para imaginar o seu futuro.” (John McCormick, p. XII)
“Os europeus têm opiniões divergentes sobre a conveniência de transferir os poderes dos estados membros para um novo nível de governo e, embora as pesquisas de opinião mostrem que cerca de metade aprova a União Europeia, a outra metade desaprova ou ainda não tem certeza do que pensa. Os críticos acusam os "eurocratas intrometidos" e se preocupam com os custos de dar autoridade a instituições que para eles muitas vezes são secretas e irresponsáveis. Eles também questionam até que ponto a integração pode ser creditada com o crescimento econômico e a prosperidade que atingiram a Europa Ocidental desde 1945. (robertschhuman.eu/fr/librairie/0073-pour-l-europe-sixieme-edition)”. (John McCormick, p. XII)
Neste contexto, vale a pena recordar um excerto do discurso do ex-presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, “Se eu não fosse luxemburguês, alertaria para o provincianismo, que, no melhor sentido da palavra, , não é um conceito ou fórmula para imaginar ou moldar o futuro. E porque a Europa é a Europa - com todo o valor que traz, com todos os sonhos que evoca no mundo, como lugar de esperança para muitos - tal como é, devemos preocupar-nos, não em criar mais a Europa, mas em fazer da Europa um melhor lugar. E a Europa só se tornará um lugar melhor se não aceitarmos o fato de que tantos jovens na Europa não conseguem encontrar trabalho. Este é o verdadeiro problema que o continente europeu enfrenta. Não devemos permitir que, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os pais não possam oferecer aos seus filhos uma vida melhor do que a deles, ou pelo menos tão boa quanto a deles. E enquanto 25.000 crianças morrerem de fome em todo o mundo todos os dias, o trabalho da Europa e da Europa neste mundo não estará terminado”. (Jean-Claude Juncker 2016).
Os pais da UE são universalistas e, em essência, “os universalistas acreditam que os tratados multilaterais e as organizações internacionais a eles associadas são tanto a causa quanto o efeito de uma transição de noções anacrônicas de soberania e auto engrandecimento, ainda resumidas em poderes bilaterais baseados em pactos - para uma sociedade internacional mais esclarecida. Esta sociedade tem sido descrita como uma "comunidade", uma "aldeia global", um "bairro", uma "família de nações", ou ainda - no seu retrato mais exagerado - como um precursor de uma visão inspirada de "amor global. " (Philip Allott 2001).
A paz não é uma tarefa fácil e comum, requer trabalho e vigilância, amor e sacrifício. A Europa tem muitos desses elementos de construção da paz. A paz leva as pessoas a um sentimento de alegria, e talvez a escolha da Ode à Alegria de Ludwig von Beethoven como Hino Europeu tenha sido mais uma grande inspiração para aqueles que sonhavam com um mundo de felicidade para todos, não apenas os europeus, mas toda a humanidade.
sábado, 18 de janeiro de 2025
Pedro I de Portugal e Inês de Castro meus trisavós de vigésimo segundo grau
Recentemente explorando um site de genealogia, como a viajar no tempo, fiquei estarrecido ao fazer uma emocionante descoberta. Eu sou descendente de Pedro I e Dona Inês de Castro. Aí vai o porquê da minha emoção:
Pedro I, também conhecido como Pedro, o Cruel, era filho do rei Afonso IV de Portugal. Ele se apaixonou por Inês de Castro, dama de companhia de sua esposa, D. Constança Manuel. Mesmo após o casamento com Constança, Pedro e Inês mantiveram um romance secreto. Importante dizer que naquela época e mesmo hoje em dia, muitas reinos adotam critérios de casamento para os príncipes e princesas com base em interesses políticos e não necessariamente o amor. Pedro, portanto, foi obrigado pelo pai a casar-se com D. Constança.
Após a morte de Constança em 1345, Pedro passou a viver abertamente com Inês, o que gerou grande descontentamento na corte e entre o povo. O rei Afonso IV, pai de Pedro, não aprovava a relação e, em 1355, ordenou a execução de Inês de Castro.
Devastado pela morte de sua amada, Pedro liderou uma revolta contra seu pai e, quando assumiu o trono em 1357, vingou-se dos assassinos de Inês, mandando arrancar-lhes o coração, assim como eles tinham figurativamente feito com ele, ao assassinar a mulher de sua vida, daí a alcunha de Pedro, o Cruel. Ele também declarou que havia se casado secretamente com Inês e a reconheceu como rainha póstuma de Portugal.
Uma das lendas mais macabras e fascinantes da história portuguesa conta que Pedro mandou exumar o corpo de Inês e a coroou. Daí a frase que repetimos sem saber a origem quando queremos dizer que algo que acaba de ser feito não tem mais importância: “Agora é tarde, a Inês é morta!" Durante a cerimônia, ele teria obrigado os nobres da corte a beijarem a mão do cadáver de Inês, como um gesto de reconhecimento e respeito, através do qual, ele se vingou da corte que humilhou Inês devido ao seu relacionamento com Pedro.
A verdade é que Pedro mandou trasladar o corpo de Inês para o Mosteiro de Alcobaça, onde mandou construir dois magníficos túmulos para que pudessem descansar juntos para sempre.
Essa história de amor proibido, traição e vingança é muitas vezes comparada à de Romeu e Julieta, mas com a diferença de que é uma história real que marcou profundamente a história de Portugal. Eu sempre tive um encantamento com essa história, sem saber da minha descendência.
Eles tiveram três filhos: Beatriz, João e Dinis. Foi João que originou a linha dos meus antepassados até o meu bisavô materno Idelfonso de Castro Deus, meu avô Rêmolo de Castro Deus e minha mãe Marli Miranda de Castro Ribas. Vinte e duas gerações e 705 anos depois, estou aqui, feliz e sensibilizado por ser a 22ª geração fruto deste grande amor, portanto eu sou o trineto de vigésimo segundo grau de Pedro e Inês.
Ainda hoje, os túmulos de Pedro I e Inês de Castro estão localizados no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal. Eles são verdadeiras obras-primas da escultura gótica portuguesa, construídas entre 1358 e 1367. Os túmulos estão posicionados frente a frente no transepto da igreja do mosteiro, de modo que, segundo a lenda, quando ressuscitarem, possam se ver imediatamente.
Estou indo à Portugal em junho para o lançamento do meu novo livro, Glória aos Heróis nas Feiras de Lisboa e do Porto, além de um lançamento em uma livraria portuguesa e com toda a certeza visitarei o túmulo de meus ancestrais de meus trisavós Pedro e Inês.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Comparação entre os romances de guerra, Nada de novo no front de Erich Maria Remarque, Por quem os sinos dobram de Ernest Hemingway e Glórias aos heróis de Mauricio Ribas
Comparação entre os livros Nada de Novo no Front de Erich Maria Remarque, Por Quem os Sinos Dobram de Ernest Hemingway e Glória aos Heróis de Mauricio Ribas. Cada um desses livros aborda a guerra de maneiras distintas, refletindo as experiências e perspectivas únicas de seus autores.
Nada de Novo no Front - Erich Maria Remarque
Contexto: Publicado em 1929, este romance é ambientado durante a Primeira Guerra Mundial e segue a vida de Paul Bäumer, um jovem soldado alemão.
Temas: O livro explora a brutalidade e a desumanização da guerra, a perda da inocência e o impacto psicológico nos soldados.
Estilo: Remarque utiliza uma narrativa direta e realista para transmitir a futilidade e o horror da guerra.
Perspectiva: A história é contada do ponto de vista de um soldado comum, destacando a experiência individual e a camaradagem entre os soldados.
Por Quem os Sinos Dobram - Ernest Hemingway
Contexto: Publicado em 1940, o romance se passa durante a Guerra Civil Espanhola e segue Robert Jordan, um americano que luta ao lado dos republicanos.
Temas: Hemingway aborda a coragem, o sacrifício, a lealdade e a luta pela liberdade. O livro também explora o amor e a morte em tempos de guerra.
Estilo: Conhecido por seu estilo conciso e econômico, Hemingway utiliza diálogos fortes e uma narrativa introspectiva para explorar as motivações e os dilemas morais dos personagens.
Perspectiva: A história é contada do ponto de vista de um combatente estrangeiro, oferecendo uma visão externa sobre o conflito e suas complexidades.
Glória aos Heróis - Mauricio Ribas
Contexto: Publicado em 2024, este romance é ambientado durante a guerra da Ucrânia e narra um caso de amor vivido em meio ao conflito.
Temas: Ribas explora a resiliência, a coragem e a humanidade das pessoas envolvidas na guerra. O livro também aborda o impacto emocional e psicológico do conflito.
Estilo: Ribas combina elementos de ficção e realidade, utilizando uma narrativa envolvente e emocional para capturar a essência da experiência humana em tempos de guerra.
Perspectiva: A história é contada do ponto de vista de personagens que vivem diretamente o conflito, destacando a luta pela sobrevivência e a esperança em meio à adversidade.
Comparação
Temática: Todos os três livros abordam a guerra, mas cada um foca em diferentes aspectos. Nada de Novo no Front enfatiza a desumanização e o impacto psicológico nos soldados, Por Quem os Sinos Dobram explora a luta pela liberdade e os dilemas morais, enquanto Glória aos Heróis destaca a resiliência e a humanidade em meio ao conflito.
Estilo: Remarque utiliza uma narrativa direta e realista, Hemingway é conhecido por seu estilo conciso e introspectivo, e Ribas combina ficção e realidade com uma narrativa emocional.
Perspectiva: Remarque e Ribas oferecem uma visão interna dos conflitos através dos olhos de personagens diretamente envolvidos, enquanto Hemingway fornece uma perspectiva externa através de um combatente estrangeiro.
Cada um desses livros oferece uma visão única sobre a guerra, refletindo as experiências e perspectivas de seus autores
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Link para pré-aquisicao da obra Glória aos Heróis - Um amor em meio à guerra da Ucrânia - Pré-venda, peça já o seu exemplar
https://www.livrariaipedasletras.com/pd-9748fc-gloria-aos-herois-um-amor-em-meio-a-guerra-da-ucrania.html?ct=&p=1&s=1
sábado, 9 de novembro de 2024
Mauricio Ribas, nasceu em Curitiba, Paraná, onde vive atualmente. Mauricio é escritor, político, advogado, professor de Direito, cursou a Escola de Diplomacia da Estônia (Estonian School of Diplomacy), país onde viveu por cinco anos, ele é especialista em União Europeia e Relações Internacionais. Maurício fala fluentemente vários idiomas e pós-graduou-se em Literatura, Filosofia e Arte pela PUC do Rio Grande do Sul. Maurício, tem vários livros publicados, já escreveu e escreve sobre Direito e Relações Internacionais, matérias pelas quais ele é um apaixonado. Ele é um defensor intransigente do diálogo e da necessidade de cooperação entre os povos. Tem defendido a busca urgente de soluções para salvarmos o planeta em que vivemos. Membro da Anistia Internacional e do ICAN (INTERNATIONAL CAMAPAIGN TO ABOLISH NUCLEAR WEAPONS) defende os Direitos Humanos e combate a proliferacao de armas nucleares e luta pela sua abolição . Ele tem clamado pelo fim das guerras e pela liberdade e soberania dos povos. Nas suas andanças pelo mundo, visitou mais de 20 países, viveu em dois, além do Brasil. Maurício dedica-se atualmente a escrever, obras de ficção, marcadas por sua visão do mundo e da humanidade. Recentemente em 2.023, publicou Ingel Addae – A luta entre o bem e o mal, uma ficção infantojuvenil e em 2.024 o livro Questões Polêmicas – Relações Internacionais, que aborda questões intrigantes que merecem ser discutidas na seara das relações internacionais e diplomacia. Ele lançará em dezembro de 2024 um novo romance chamado Glória aos Heróis - Um amor em meio à guerra da Ucrânia, um romance envolvente que trará uma mensagem de paz ao mundo. Não é só isso, vem muito mais por aí.
Assinar:
Postagens (Atom)
A quem serve o Santo Graal?
A história do Rei Pescador e Parsifal é uma das mais conhecidas na tradição do ciclo arturiano e nas lendas do Santo Graal. O Rei Pescado...

-
Adquira já o seu exemplar entre em www.ipedasletras.com
-
Este livro, INGEL ADDAE - A LUTA ENTRE O BEM E O MAL, é dedicado a todas as crianças do mundo, mas especialmente aquelas que sofrem qualqu...