segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A MELANCOLIA DEVER SER REATIVA

 


 

 

A articulista Ligia Dinis, da folha de São Paulo, ao publicar um artigo crítico sobre o livro Factótum, de Bukowski, menciona que a tradição literária moderna, masculina e ocidental nos deixou duas grandes lições a respeito da relação entre a lucidez com que se encara o mundo e o estado de espírito resultante disso. A primeira, já um tanto problemática, é a de que o sujeito que encara os horrores do mundo de frente, com inteligência e sem covardia, é inevitavelmente um melancólico. Melancolia é uma tristeza profunda e permanente. A melancolia é bastante comum entre os artistas que são reconhecidos, como pessoas notoriamente mais sensíveis que as demais. O mundo no qual vivemos, nos dá razão de sobra para sermos melancólicos, isso não podemos negar e não é preciso divagar muito para entender que a vida causa dor, impossível ficarmos insensíveis a tanta injustiça e sofrimento. Por isso, encarar o mundo de frente, apesar da dor, é o que se nos apresenta para podermos justificar o privilégio da existência. Do contrário acabaríamos consumidos pelo álcool, drogas ilícitas, depressão, inação ou suicidando-se como Ernest Hemingway e tantos outros escritores fantásticos. A segunda, realmente danosa, é a de que basta ser melancólico para se passar por lúcido, inteligente e corajoso e na opinião dela, da Ligia, Charles Bukowski é um dos propagadores dessa grande bobagem. Duas questões se nos apresentam, a primeira é se o mundo entristece ao ponto de nos tornarmos melancólicos e se esse é um desiderato inevitável para o homem, e a segunda é se a melancolia é necessária e nos conduz à reação. A primeira entendo que sim, mas não necessariamente devemos reagir nos entristecendo, renunciando à alegria de forma permanente, e à segunda entendo que com base na primeira resposta viver triste não é implacavelmente inevitável. É preciso dizer que a felicidade humana será sempre relativa e não absoluta.

Portanto, não basta sermos melancólicos para sermos lúcidos, inteligentes e corajosos, vale dizer não basta sentirmos as dores do mundo, antes é preciso sermos reativos, que é um adjetivo referente àquilo que produz uma reação. No âmbito específico da química, um reativo é uma substância que permite revelar a presença de uma outra substância diferente e que, através de uma interação, dá lugar a um novo produto. Transportando para a vida humana essa lição da química, ao nos depararmos com a melancolia devemos utilizá-la como reativo, que detectando o que há de ruim, injusto e miserável, a nossa volta e além, faz-se da  luta um fator de transformação A melancolia é um sinal de lucidez, que somada à coragem  e à inteligência, transformará o mundo  em que vivemos em um mundo melhor, ainda que nossa contribuição seja pequena, ela se somará aos outros milhões de outros esforços, logrando atingir o objetivo de transformação que tanto almejamos. Portanto, não ao conformismo, não à procrastinação, não à indiferença, não à banalização do mal. Sim à felicidade de servir, para fazer a diferença e transformar.

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